Em 2023, o mercado do têxtil biológico atingiu os 10 mil milhões de euros, com um crescimento anual de cerca de 10%. Este sucesso reflecte a mudança de atitudes em relação a uma moda mais amiga do ambiente. Mas atenção, por detrás da palavra “biológico” escondem-se uma série de desafios.
Têxteis convencionais vs. têxteis biológicos: quais são as diferenças?
Para compreender o entusiasmo da moda dos têxteis biológicos, é necessário analisar primeiro em que é que estes diferem dos têxteis tradicionais.
Os têxteis convencionais, em particular o algodão, estão entre os mais poluentes do mundo. São responsáveis por 25% dos pesticidas utilizados na agricultura a nível mundial. Além disso, as tintas e os tratamentos químicos utilizados durante o fabrico libertam substâncias tóxicas no solo e nos cursos de água. Para não mencionar as condições de trabalho muitas vezes precárias nos países produtores.
Os têxteis biológicos são peças de roupa fabricadas a partir de fibras naturais, como o algodão biológico, o cânhamo ou a lã. No entanto, baseia-se numa produção mais respeitadora do ambiente e da saúde dos trabalhadores. Exclui a utilização de pesticidas, OGM’s (Organismos geneticamente modificados) e produtos químicos nocivos.Em teoria, isto significa uma melhor preservação dos ecossistemas e uma redução da pegada de carbono. Mas embora a intenção seja louvável, a sua aplicação não está isenta de críticas.

Uma moda comprometida ou apenas uma tendência passageira?
Por um lado, é um facto incontestável que os produtos biológicos respondem a questões ambientais e sociais fundamentais. Ao optarem por uma peça de vestuário certificada, os consumidores estão a apoiar uma indústria mais transparente e menos poluente. Algumas marcas pioneiras privilegiam os circuitos curtos, as tintas naturais e os materiais sustentáveis para oferecer alternativas credíveis à fast fashion.
Mas, por outro lado, há que reconhecer que os têxteis biológicos continuam a ser um nicho de mercado e ainda estão a lutar para transformar a indústria na sua totalidade. A sua aprovação é muitas vezes parcial: uma T-shirt pode ser feita de algodão biológico, mas tingida com produtos poluentes ou cosida em instalações com condições de trabalho questionáveis. Daí a pergunta: biológico, sim, mas até onde?

Greenwashing: como distinguir o genuíno do enganoso?
O “greenwashing” ou ecobranqueamento é uma prática comum na indústria têxtil. Muitas marcas utilizam termos como “amigo do ambiente” ou “natural” sem qualquer prova concreta. Como é que os consumidores podem ter a certeza de que estas alegações são verdadeiras?
A resposta está na certificação. Certificações como o GOTS (Global Organic Textile Standard) e o OEKO-TEX garantem práticas respeitadoras do ambiente e a ausência de substâncias nocivas. Estas certificações são ferramentas fiáveis para poder fazer escolhas conscientes.
O têxtil biológico: luxo ou democratização?
O têxtil biológico é frequentemente mais caro, custando cerca de 30 a 50% mais do que a fast fashion. Esta acessibilidade limitada atrasa a sua democratização. Contudo, estão a surgir soluções. Algumas marcas estão a adoptar modelos de negócio que permitem oferecer vestuário biológico a preços mais acessíveis.
Investir em peças duradouras e intemporais, em vez de acumular roupa descartável, é bom para o planeta e para a carteira a longo prazo.

Progressos importantes, mas subsistem desafios.
O têxtil biológico representa um passo significativo para uma moda mais consciente. No entanto, não se trata de uma solução milagrosa. É uma melhoria significativa em termos ambientais e éticos, mas não resolve tudo:
- Reduz a utilização de pesticidas e produtos tóxicos.
- Promove condições de trabalho mais justas.
- Continua a ser um nicho de mercado, muitas vezes dispendioso
- Nem sempre garante uma moda 100% sustentável.
Para ter um verdadeiro impacto, não basta comprar uma t-shirt “biológica”. Precisamos também reconsiderar como consumimos, privilegiando a qualidade, o cuidado e a manutenção da roupa e a transparência das marcas.
Os têxteis biológicos são, portanto, um progresso, mas não uma revolução. O seu sucesso dependerá da capacidade das marcas para tornarem esta alternativa verdadeiramente acessível e transparente. E, acima de tudo, da nossa vontade em mudar a forma como consumimos a moda.